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Insegurança alimentar volta a esvaziar o prato da população: Brasil retorna ao patamar da fome da década de 1990

 

Um levantamento realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN*) e divulgado em junho de 2022, mostra um quadro perverso quando o foco é a fome no país: "A escalada da fome no Brasil está expressa em pratos cada vez mais vazios, olhares cada vez mais preocupados, e números em permanente e rápida ascensão", alertam os dados.

 

De acordo com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer neste 2022. Mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave (fome). Pior: são 14 milhões de novos brasileiros em situação de fome em pouco mais de um ano. Os resultados comprovam que o país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990.

 

Para Renato Maluf, Coordenador da Rede PENSSAN, “Já não fazem mais parte da realidade brasileira aquelas políticas públicas de combate à pobreza e à miséria que, entre 2004 e 2013, reduziram a fome a apenas 4,2% dos lares brasileiros. As medidas tomadas pelo (atual) governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”.

 

A seguir, um pequeno resumo dos principais pontos destacados na pesquisa e que evidenciam as regiões e os grupos que mais sofrem com a falta de comida no prato:

 

- Regiões Norte e Nordeste: a insegurança alimentar novamente atinge as regiões do Brasil de forma desigual. A fome fez parte do dia a dia de 25,7% das famílias na região Norte e de 21% no Nordeste.
- O campo também é a região mais afetada: na comparação com a cidade, nas zonas rurais a insegurança alimentar esteve presente em mais de 60% dos domicílios.
- A fome tem cor: 65% dos lares comandados por pessoas pretas ou pardas convivem com restrição de alimentos em qualquer nível. Comparando com o 1º Inquérito Nacional da Rede PENSSAN, de 2020, em 2021/2022, a fome saltou de 10,4% para 18,1% entre os lares comandados por pretos e pardos.
- A fome tem gênero: as diferenças são expressivas na comparação entre os lares chefiados por homens e os lares chefiados por mulheres, comprovando a diferença salarial entre homens e mulheres. O estudo mostrou que nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%; já nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%.
- Lares com crianças, fome dobrada: em pouco mais de um ano, a fome dobrou nas famílias com crianças menores de 10 anos – de 9,4% em 2020 para 18,1% em 2022.

 

Concluindo: para acabar com a fome é preciso ter renda, é preciso ter salário digno, é preciso ter emprego. A pesquisa comprova que a fome quase desaparece nos lares com renda superior a um salário mínimo por pessoa. Salário mínimo atual: R$ 1.212,00.

 

A reunião dos dados

As estatísticas foram coletadas entre novembro de 2021 e abril de 2022, a partir da realização de entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. A Segurança Alimentar e a Insegurança Alimentar foram medidas, mais uma vez, pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), que também é utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

O estudo completo pode ser acessado, na íntegra: OLHE PARA A FOME


*A Rede PENSSAN é formada por pesquisadores, professores, estudantes e profissionais, e o estudo foi realizado em campo pelko Instituto Vox Populi. A Ação da Cidadania, a ActionAid, a Fundação Friedrich Ebert Brasil, o Ibirapitanga, a Oxfam Brasil e o Sesc São Paulo são organizações apoiadoras e parceiras da iniciativa.


Fonte: https://pesquisassan.net.br/