Da esquerda para a direita: Juarez Guimarães, Elda Bussinguer, Lucia Souto,
Ana Lúcia e Marcela Pontes
Na quarta-feira, 27 de julho, foi realizado o último encontro virtual preparatório para a Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde 2022 da próxima semana, 5 de agosto.
Com o tema Democracia, Participação Popular e Ampliação da Base Social em Defesa do SUS, a live reuniu Lucia Souto (Centro Brasileiro de Estudos de Saúde - CEBES), Juarez Guimarães (Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG), Ana Lúcia (Conselho Nacional de Saúde - CNS) e Marcela Pontes (Movimento de Médicas e Médicos pela Democracia) que expuseram, de modo incisivo, a importância do envolvimento da sociedade na reconstrução do sistema público de saúde brasileiro e da nossa democracia. O encontro contou com a coordenação de Elda Bussinguer, presidenta da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB).
Ao dar boas vindas aos participantes da live, Elda enalteceu a relevância do momento vivido pelo país, “momento esse que está dividindo a nossa história, um momento de crise, um momento no qual a democracia está sofrendo com todos os abalos possíveis, momento no qual a sociedade foi excluída de praticamente todos os espaços importantes de atuação que nos foram garantidos pela Constituição da República do Brasil desde 1988, uma Constituição cidadã, baseada fundamentalmente na participação da sociedade, dando voz a ela. Vivemos tempos difíceis, tempos distópicos, tempos que certamente precisamos superar. Nesse sentido, esse encontro, quando vamos abordar Democracia, Participação Popular e Ampliação da Base Social em Defesa do SUS tem, para mim, a maior seriedade. Todo e qualquer tema que discutimos é fundamental para nos questionarmos como fazer essa ampliação da base social, pois o seu acanhamento certamente nos levou, dentro de um projeto de desmonte da sociedade, a estas dificuldades que estamos enfrentando desde o golpe da presidenta Dilma e, posteriormente, com a eleição do atual presidente da República. Neste sentido, esta live se reveste da maior importância, porque representa um espaço para pensarmos, juntos, as possibiidades de enfrentamento deste momento, de superação. Este encontro também faz parte das diversas atividades que vem sendo implementadas desde o lançamento do projeto Frente Pela Vida, que reúne dezenas de entidades no Brasil e que vem atuando de uma forma a resgatar o espírito da reforma sanitária tão necessário neste momento. É preciso que estejamos todos mobilizados numa efervescência para o enfrentamento deste problema que vivemos hoje e que precisamos superar.”
O que disseram os palestrantes...
Para Lucia Souto, o tema proposto por esta live “é estratégico e desafiador, pois envolve a defesa da democracia e o resgate da saúde, ambas tão ameaçadas nos dias de hoje no país, lembrando que Saúde & Democracia são indissociáveis.” Lembrou, também, que o enfrentamento da pandemia pelas brasileiras e brasileiros ocorreu durante a pior gestão governamental do país, responsável pela morte de mais de 665 mil pessoas: “Esta tragédia comprovou que o projeto ultraneoliberal é um fracasso, porque representa uma ameaça à vida, ao meio ambiente, ao sistema democrático, o que nos leva a compreender o imenso desafio que nos espera em 2022”, alertou a presidenta do Cebes. A pergunta que ecoa, para Lucia, é: “Como reconstruir o país que queremos? Como viabilizar esta retomada, como recriar um país pluralizado?” Estas são apenas algumas das questões de enorme gravidade que serão pautas da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde do dia 5 de agosto, uma grande preparação para 2023, quando está programada a 17ª Conferência Nacional de Saúde, do Conselho Nacional de Saúde.
Juarez Guimarães demonstrou, com a apresentação “O SUS e o novo tempo na democracia brasileira”, sua real preocupação na retomada, do que chamou, de uma “inteligência sanitária”, ou seja, o direito à vida do povo brasileiro. Para ele, o desafio atual é árduo e grandioso: “É preciso formular o novo pacto do SUS e a construção plena de seus eixos estruturantes, assim como reconstruir a democracia brasileira, ampliando a força pela luta democrática.” Soares garantiu que o encontro de 5 de agosto é o maior evento democrático nesse processo histórico de transição vivido pelo Brasil atual, e enfatizou: “A Conferência está grávida do futuro.”
Ao citar a importância do voto, da livre escolha dos cidadãos, Ana Lúcia, representando o Conselho Nacional de Saúde, lembrou que “A soberania exercida pelo povo só é possível em um regime democrático, com igualdade de oportunidades, erradicação de todo e qualquer tipo de preconceito, sem sofisticar a linguagem para as pessoas que de fato estão vivendo essa realidade discriminatória, como os povos originários, negros, mulheres, enfim, as populações vulnerabilizadas”. E acrescentou: “Essa linguagem, que deveria ser simples e transparente, foi drasticamente comprometida pelo ultraneoliberalismo do atual governo.”
"Não precisamos de armas, mas sim de diálogos". Foi com esta frase de impacto que Marcela Pontes marcou o início de sua fala no encontro. A médica de Famíia alertou para a importância de estarmos abertos e dispostos para "uma construção coletiva que reúna e aproxime trabalhadores da saúde, usuários do SUS, profissionais de outras áreas e a sociedade plural, como os povos indígenas, capaz de retomar a experiência positiva do passado, auxilie e viabilize a formação de Comitês Populares de Saúde." Para Marcela, é preciso "abrir o leque para o social, com espaços de diálogo, de fala, que unifiquem a intelectualidade com estudantes, com trabalhadores, com os povos originários, com a sociedade". E completou: "Todos devemos ter os mesmos espaços de falas garantidos, com consciência de luta permanente, pois as forças sociais são fundamentais na luta institucional por direitos e autonomia."
Ao agradecer a todos pela presença, a presidenta da SBB lembrou que a diversidade e a pluralidade na composição da mesa tornou a live extremamente rica em seu conteúdo e reflexões. E convidou a todas e todos a participarem da Conferência Livre, Democrática e Popular de Saúde 2022, não somente na presença, mas com sua contribuição, para que o evento seja realizado na dimensão que precisa: “Estamos com uma ‘vaquinha virtual’ e convidamos a todas e todos a contribuir com essa iniciativa de alguma forma, para a realização do encontro de maneira realmente democrática, com a participação de toda a sociedade.” (Para contribuir, clique AQUI)
Para rever a live completa clique em:
Democracia, Participação Popular e Ampliação da Base Social em Defesa do SUS.
Este encontro fechou um grande ciclo de eventos e debates virtuais e presenciais realizados por todo o país, caracterizando uma mobilização intensa da sociedade e de várias entidades que, em uníssono com o movimento da Frente Pela Vida, reivindicam a reestruturação imediata do Sistema Único de Saúde e o fortalecimento da democracia, pilares para o encontro nacional de agosto, que será realizado na Casa de Portugal, em São Paulo.