"A história da ciência é marcada por machismos e por abusos contra as mulheres. Claro,
por muito tempo foi um campo social restrito a homens e ativamente vetado às mulheres."
Reproduzinos, a seguir, texto de Henderson Fürst*, redigido especialmente em lembrança ao dia de hoje,
8 de março de 2023, Dia Internacional da Mulher
No século XV, por exemplo, a caça às “bruxas” serviu para eliminar da ciência diversas mulheres. Isso sem contar do roubo de autoria de pesquisas, como o caso da descoberta da dupla hélice do DNA, ou ainda o viés cognitivo masculino que implicou na criação de estereótipos machistas sobre o corpo e a saúde da mulher – apenas para ilustrar, por muito tempo o óvulo e o espermatozoide foram descritos em textos científicos baseados no papel social atribuído ao gênero em relacionamento romântico.
A violação a direitos reprodutivos é uma constante da ciência e da medicina. Laqueadura involuntária ou compulsória, pesquisas absurdas violando direitos fundamentais (como no caso da pesquisa com pílulas contraceptivas em San Antonio, 1971), e até mesmo no momento do parto, a mulher precisou lutar (e segue lutando) para dizer o óbvio: respeito a si e seus direitos.
Na Bioética não foi diferente. Constituída por dois campos marcadamente masculinos (Ciência e Medicina), a bioética permaneceu por algum tempo profundamente masculina. É a participação das mulheres que permitiu que novos temas fossem debatidos, que a perspectiva crítica se consolidasse e, sobretudo, que o viés cognitivo de gênero fosse exposto e modificado. Foi este movimento que avançou, em muito, à compreensão da vulnerabilidade.
No Brasil, é preciso enfatizar que a mudança tem ocorrido. As primeiras 4 teses em Bioética no Brasil foram feitas por mulheres. Quando olhamos a produção bibliográfica brasileira contemporânea, vemos a marcante e expressiva participação feminina na autoria, na temática e na abordagem; as Comissões de Bioética, os eventos em Bioética e as salas de aula também estão majoritariamente femininas. E vale sempre ressaltar que a Sociedade Brasileira de Bioética é presidida por uma mulher e tem mais diretoras que diretores.
Isso diz muito do presente e do futuro da Bioética no Brasil. Isso diz, também, que podemos sonhar com o avanço de direitos bioéticos e fundamentais ligados à saúde e ao corpo. Há esperança, porque vocês estão aqui.
Parabéns à todas as mulheres! Que este 8 de março seja uma data marcada pela conquista de direitos fundamentais.
* Henderson é membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Bioética, advogado, editor e professor.
Imagem: pixabay