A Sociedade Brasileira de Bioética reconhece que a Bioética, enquanto campo interdisciplinar que busca responder aos desafios contemporâneos da vida humana e planetária, identifica no legado do Papa Francisco uma fonte de inspiração ética profunda e atual. Sua contribuição ultrapassa fronteiras religiosas, dialogando diretamente com temas centrais da Bioética contemporânea, como a dignidade da pessoa humana, a justiça social, a equidade ambiental e a responsabilidade solidária entre os povos.

A Sociedade Brasileira de Bioética, por ocasião do falecimento do Papa Francisco, manifesta este público reconhecimento pelo respeitável legado que ele deixa à Humanidade, para além das fronteiras de crenças religiosas. De fato, para ir ao encontro das pessoas e de diferentes grupos sociais e religiosos, ele superou os limites que lhe impunham as praxes de sua própria instituição. Em meio aos maiores distanciamentos, ele teve a sabedoria de assumir e evocar princípios fundantes para as relações, pelos quais postulou bases profundamente inclusivas e respeitosas nas diferenças. E, da mesma forma, foi capaz de tocar nas feridas sociais da Humanidade e de seu ambiente, usando, antes de tudo, a linguagem da solidariedade e de iniciativas transformadoras. Sem se omitir quanto às responsabilidades, é notável que tenha evitado discursos acusativos que pudessem quebrar pontes para os diálogos. Também se distanciou de atitudes autoritárias que pretendessem ditar soluções onde a necessária transformação de mentalidades estabelecidas na vida social exige, a seu ver, métodos inclusivos e participativos.

No que se refere à Bioética, pode-se dizer que Francisco deu passos de gigante ao revigorar os fundamentos dos direitos humanos e postular coerência na defesa dos vulneráveis. E o fez em linguagem mais acessível ao grande público, servindo-se de uma interdisciplinaridade implícita para compreender as necessidades do presente e as tendências que abrem pontes para o futuro. Sua proposta reforçou a necessidade de uma Bioética Global que ultrapasse as preocupações estritamente clínicas, reconhecendo as vulnerabilidades humanas e planetárias, e propondo uma solidariedade ativa entre os povos, as gerações e a natureza. Sua proposta de Ecologia Integral vem reforçar a Bioética Global, mostrando a necessidade de metanarrativas que referendem o reconhecimento de habitarmos uma Casa Comum, onde a dignidade do humano se funde com o ambiente no qual e do qual vivemos. Quanto à Bioética de elaboração acadêmica, Francisco se distinguiu por um profundo respeito às ciências, mostrando a convicção de que, sem elas, não conseguimos nos entender sobre onde estamos com nossos problemas e interrogações, nem para onde vamos. Fez referências explícitas à Bioética e contribuiu com reflexões e recomendações diante dos avanços tecnológicos, seus ingentes recursos e também desafios éticos. Foi, sobretudo, um paladino de razões e sentidos para se levar adiante grandes pautas postuladas pela Bioética no contexto mundial.

Sua liderança ética foi reconhecida mundialmente, tornando-o uma referência moral capaz de dialogar com diversas tradições religiosas, culturais e científicas, promovendo uma linguagem comum em torno da vida, da justiça e da dignidade humanas.

Registramos, portanto, o respeito profundo da Sociedade Brasileira de Bioética à memória do Papa Francisco e ao legado que nos deixa. Reafirmamos, ainda, o compromisso da Sociedade Brasileira de Bioética de continuar promovendo, no espírito de seu legado, uma Bioética voltada à promoção da vida em todas as suas dimensões, à dignidade humana e à justiça global.

Fonte da imagem: VaticanNews